segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Encontro

Um jovem que não consegue ultrapassar um desgosto amoroso.

- Não adianta, não há ninguém como ela. Já estou farto de procurar e não encontro ninguém que chegue aos seus pés

Um amigo que faz tudo para com que ele avance.

- Se deixasses de ficar todo o dia sentado no sofá, com a cabeça enfiada no rabo, talvez encontrasses alguém.
- Eu apenas gosto de ver televisão deitado no sofá. De vez em quando mudo de posição para não enjoar.
- Meu, tu andas com esses boxers à quinze dias. Se colocas a cara onde meteste o cu, então, para mim andas com a cabeça enfiada no rabo.

Uma jovem que quer ultrapassar rápido a última relação que teve.

- Eu vou sair e vou atirar ao primeiro gajo que olhar para mim!

Uma amiga que faz tudo para com que ela pare.

- Tu já fizeste isso tantas vezes e ele sempre cagou para ti.
- Talvez não tenha ido ainda longe demais.
- Tu tiveste sexo na cama dele.
- Sim.
- No dia do seu aniversário.
- Sim.
- Para o qual não foste convidada
- Sim.
- E só conseguiste entrar porque seduziste o pai dele.
- Sim.
- Que foi com quem tiveste sexo na cama dele.
- Sim, e então? Ele desprezou-me.
- É o que eu te estou a tentar dizer...

Uma ideia.
(ecrã dividido em dois)

- Que tal tu conheceres uma amiga da minha namorada?
- Que tal tu conheceres um amigo do meu namorado?

- Que tal é ela?
- Que tal é ele?

- Simpática (imagem da jovem a atirar pedras da calçada à casa do ex-namorado). Firme... nas suas posições.
- É vistoso. (imagem do jovem a coçar o escroto e a arrotar). Muito caseiro, gosta de estar em casa

- Hum... deve ser feia.
- Hum... deve ser estúpido.

Jantar de apresentação

- Que se passa com a cara dela? Parece que está de trombas e com vontade de me ir à tromba. - comenta o jovem com o amigo.
- Que se passa com o cabelo dele? Parece que se enganou no frasco do champoo e trocou-o por óleo refinado. - comenta a jovem com a amiga.

(imagem do jantar em que os dois estão a discutir)

- Sabes qual é o teu problema? Estás habituada a que o mundo venha quando tu estalas os dedos. Mas o mundo não gira à tua volta. Os homens não têm que estar presentes apenas porque tens um capricho, ou porque precisas de companhia ou de sexo!
- Estás a chamar-me de vaca, meu grandessíssimo filho de uma...
- Senhora, tenho que pedir que baixe o tom de voz... - diz o empregado do restaurante embaraçado, olhando para os vários clientes.
A jovem ignora-o e diz para o jovem, com o casal de amigos no meio, olhando para os pratos.
- Sabes qual é o teu problema? Vives num mundo de fantasia, onde achas que virá uma mulher com asas e que ela irá aceitar-te como tu és, mas deixa-me dizer-te, nenhuma mulher te pode aceitar como és, não pelo menos enquanto não tomares um banho!

(imagem de pratos a voar de um lado para o outro)

- Isto se calhar não foi boa ideia...

Até que...

- Desculpa. - o amigo dá uma cotovelada no jovem que continua a falar - Eu não devia ter dito aquelas coisas.
- Pois não! - a amiga dá uma cotovelada na jovem - Eu... - outra cotovelada - Eu também não devia ter dito o que disse. Desculpa.

... do sítio mais improvável, sai a mais forte das amizades...

Ele com ela:
- Eu só queria encontrar uma mulher que me visse como eu realmente sou, sabes? Como ela fez antes. Eu não tive que me esforçar. Apenas aconteceu. Foi aquilo, perfeito.
- Se fosse perfeito, estarias com ela. E sabes, por vezes, temos que nos esforçar, não para agradar os outros. Por ti.

Ela com ele:
- Depois de tudo o que fiz por ele, como é que ele pôde avançar em frente como se eu não existisse? Como pôde ele ignorar-me desta forma?
- Porquê gastar tanto tempo a querer chamar a atenção de alguém que não te dá atenção nenhuma? Porque dar tanta atenção a essa raiva, alimentá-la, quando o que ela faz é apenas deixar-te infeliz. Lembras-te... do que é ser feliz?

... que eles nunca julgariam encontrar.

- Estarei sempre aqui para ti, para te lavar as lágrimas, daqueles que as fizeram verter.
- E eu para ti. Esperar contigo que apareça aquela mulher especial por quem procuras.

Tudo o que eles julgavam que precisavam de encontrar noutra pessoa, descobriram neles próprios, através da pessoa que mais repulsa julgavam lhe causar, quando afinal era exactamente a pessoa que precisavam de conhecer.


domingo, 15 de julho de 2012

Aparências


Eles pareciam o casal perfeito, aos olhos de todos.

Cena 1 – Restaurante
- Como te invejo… gostava de ter aquilo que tu tens. Um marido perfeito, o trabalho perfeito.
A mulher ri timidamente, mas o olhar revela alguma tristeza.

Cena 2 – Casa
- Querida, cheguei. Querida?
- Na cozinha.
- Desculpa o atraso, tive uma…hã…emergência no escritório.
- A emergência impediu-te de ligares o telemóvel ou de me avisares para que eu não estivesse aqui mais de três à tua espera?
- Querida, desculpa, eu perdi a noção do tempo…
A mulher levanta-se e sai da cozinha com as lágrimas a quererem cair.

Cena 1 – Restaurante
- Sinto-me só, sabes? Dizes que tenho uma vida perfeita, mas a minha vida perfeita está a deixar-me cada vez mais triste. É isto? É isto que é suposto ser a minha vida? Infelicidade, tristeza, solidão, incompreensão? Se eu não fosse tão cobarde, eu avançaria, eu fugiria. Iria embora sem olhar para trás. Mas eu não sou corajosa.
A amiga volta da casa de banho
-Estavas a falar com quem?
- Hã? – a mulher é surpreendida – Ninguém, apenas a pensar alto.

Cena 2 – Casa
- Não estejas assim…
- Vou-me embora.
- Como assim, vais-te embora? Como é que te vais sustentar? Quem vai pagar os teus jantares com as tuas amigas? As tuas idas às compras, todo o estilo de vida que tens, como é que o vais manter?
- Eu não pedi nada disto, nada disto tem importância para mim! Lembras-te quando começámos? Os sonhos que tínhamos? O que é que aconteceu? O que é que nos aconteceu? Antes não dava-mos importância a nada destas… coisas!

Cena 3 – Autocarro
A mulher chora com a cabeça encostada ao vidro do autocarro.

Cena 1 – Casa
- Mudámos. – o homem aproxima-se da mulher.
- Não. Se calhar sempre fomos assim. A culpa é minha, acreditei que ia deixar de me sentir assim mas apenas adiei. Fui adiando, ignorando o facto de que me sentia só, de que não me sinto apreciada, de que não me sinto amada. Deixei-me acomodar. De que iria passar
- E vai passar.
- Não, não vai. Não consigo ignorar, não mais.
- O que é que as pessoas vão dizer?
- O que elas quiserem.

A porta bate

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mãe

Cena 1 - Ecrâ negro.

1-Não vejo nada.
2-Habitua-te à escuridão.
1-Tenho medo.
2-Não tenhas, irei estar sempre aqui.
1-Mas...
2-Confias em mim, filha?
1-Sim.

Cena 2 - A escuridão é interrompida por uma luz intermitente, como que uma lâmpada prestes a fundir-se.

3-Socorro. Alguém me ajude!!
4-Tirem-me daqui!
5-Socorro!
(As vozes sobrepõem-se, cada vez mais desesperadas até terminar num lancinante grito)

A luz apaga-se

1-Mãe?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Aviso

Cena 1 (Câmara nos olhos do narrador)
Não me recordo da última vez que dormi uma noite completa. Não me recordo da última vez que dormi sequer. Apenas o medo. O medo de a ver novamente.

Cena 2
Uma mulher vestida de branco, brilhando no escuro, caminha em direcção à câmara.

Cena 1
Apenas sinto que há algo que tenho de me lembrar. Mas não sei o quê. A cada vez que fecho os olhos, ela surge. Tanta dor, tanto desespero. Ela grita mas eu não consigo ouvir nada.

Cena 2
A mulher começa a correr na direcção da câmara, abrindo a sua boca mas não se ouve nenhum som, apenas um ligeiro assobio.

Cena 1
Só quero que ela pare. Que me deixe em paz. Eu não quero saber o que vai acontecer, não quero saber se vou morrer. Só quero que ela...

Cena 2
Os pés da mulher deixam de tocar no chão e ela lança-se em voo até a câmara, ficando o ecrã cada vez mais branco luminoso, até ficar coberto por completo.

Cena 1
...pare.