Paris 1756
Cena 1
Teatro, casa cheia, opulência, luxo. Um homem bem colocado na
sociedade fala com os seus pares, enquanto a sua jovem mulher sente-se
aborrecida por sentir que não pertence aquele mundo. Ela apenas quer sentir.
Algo que já sentiu em tempos, algo que se tornou apenas uma breve lembrança,
distante demais para que a consiga agarrar. Até que o seu olhar se cruza com o
dele e uma eternidade passou-se num simples momento. O homem olha para ela de
forma sedutora, de uma forma que ela não consegue fugir. Toda a sala parece
desaparecer e apenas ficam os dois, sós, longe de tudo. A voz do seu marido faz
com que tudo volte.
- Vamos?
A mulher vai, mas olha para trás à procura do homem, não o
encontrando.
Cena 2
Conversa com uma amiga:
- Não sei o que pensar, não sei o que fazer, não consigo
deixar de pensar naquele homem. Por vezes vejo-o na rua, quando estou com o meu
marido, mas volto o olhar e não deixo de me sentir culpada. Como posso ter eu
estes pensamentos, com o meu marido ao lado? Meu Deus, nem posso sequer pensar
nisso.
- Tu estás apaixonada.
- Não! Não, não quero pensar nisso, não posso pensar
nisso.
- Não queres, não podes… mas a realidade é essa.
Cena 3
Os dois encontram-se, finalmente, à beira do rio Sena e desta
vez o seu marido não está ao seu lado. Ela tenta fugir, mas há algo mais forte
que faz com que ela se mantenha ali. Algo mais forte que faz com ela se deixe
manter naquele lugar, contra tudo o que considera certo, naquele lugar que sabe
que a vai levar ao momento que tem vivido nos seus sonhos e também nos seus
pesadelos.
Cena 4
- Querida, estamos no salão.
A voz do marido intrigou-a e quando chega ao salão, encontra
o marido junto com o homem dos seus sonhos. Duas realidades juntas numa só, duas
realidades que ela tudo fez para manter separadas. O momento é demasiado forte
para ela, desmaiando.
Cena 5
- Vamos jantar à casa dos Beauvoir.
- Não me sinto bem. Vai sem mim.
- Realmente não tens andado bem desde o desmaio, querida, mas
eu já disse que íamos. Não quero ser descortês em dizer o contrário, sabes que
não fica bem.
Ela já habituada a que os seus sentimentos não entrassem na
sua equação e interiormente chora por ir conhecer a mulher do seu amante, outra
realidade para a qual ela não está preparada.
Cena 6
Os dois corpos na cama, envoltos em luxúria e paixão,
subitamente interrompidos pela presença do marido dela, que os fica a olhar por
breves instantes antes dela, saltar da cama e tentar tapar-se. Ela começa
imediatamente a chorar, embora esteja confusa, não sabendo se chora pela perda
do marido, se chora pela perda da sua posição social. Por aquilo que as pessoas
dirão dela. A porta fecha-se com violência e tudo fica negro, ficando apenas o
choro da mulher a ecoar.
Cena 7
Uma sucessão de imagens da mulher e o homem surgem no ecrã.
Imagens de paixão, de desespero. Um tiro é disparado, gritos. E silêncio. E
negro novamente.
- Vais ficar comigo para sempre? – pergunta o homem à mulher
no dia do seu casamento, em flashback.
- Para sempre.