segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Fix You

Um homem a correr atrás de um autocarro, apanhando-o por pouco. O mesmo homem, momentos depois, a perder o comboio, num dia de chuva. O mesmo homem a chegar ao trabalho, e antes que tenha tempo para se sentar, o patrão chama-o para gritar com ele.

Numa conversa com um colega:
- Estou farto disto! Se não fossem as contas, despedia-me e pronto!
- E o que é que irias fazer?
- Não sei, mas não ia fazer mais isto!

A conversa neste ponto é sobreposta por imagens de um acidente de automóvel, de uma mulher perde o controle do carro, as imagens passam-se lentamente.
- Porque é que não pegas na Patrícia e não vão os dois para algum lado?
- É... talvez faça isso, sim.
A sucessão de imagens termina com um embate violento.

2ª Cena
O mesmo homem, sujo, a vasculhar por comida nos contentores do lixo. A ser agredido por jovens. A chorar de dor perante os céus, chuva que o fazem lembrar daquele dia.

Até que um dia, a mulher que ele tinha chorado no funeral passa à sua frente, enquanto ele estava deitado no chão. A mulher sorri e desaparece na esquina. O homem corre, mas apenas encontra um prédio abandonado.

3ª Cena
- Hey! O que é que estás a fazer aí?! - grita um outro desalojado, à porta do prédio abandonado.
- Nada. Só arranjar as coisas.
- A arranjar coisas?
- Sim. A arranjar coisas.
- Não há nada para arranjar! Isso foi tudo roubado!
- Há sempre algo para arranjar...
O desalojado resmunga e vira costas.

O homem vai arranjando material no lixo, coisas que foram deitadas fora e aos poucos as pessoas começam a notar. Um grupo de crianças está à porta a ver até que o homem lhes pede ajuda para segurar algo. Na cena seguinte, as crianças também estão a contribuir activamente. Na imagem seguinte, uma série de pessoas também o ajudam.

4ª Cena
- É loucura! Esta casa não te pertence! O que é que estás aqui a fazer? O teu lugar não é aqui com estes vagabundos!
- Eles não me rejeitaram.
- Ninguém te rejeitou!
- Não, vocês apenas não tinham paciência para me ouvirem lamentar a morte da minha mulher. E talvez tivessem razão, talvez eu tenha lamentado tempo demais mas pelo menos aqui, aqui encontrei um propósito.
- Propósito! Tu vieste aqui parar porque viste a Patrícia a passar por ti! Não foi um sinal divino, foi alucinação! Tu precisas de ajuda.
- Agora já não preciso.

5ª Cena
- Se não saírem daí a bem, a polícia vai entrar e tirar-vos à força. - diz o funcionário da câmara com um megafone.
Os desalojados saem todos unidos pelas mãos e colocam-se à frente da polícia.

Imagens de risos, de lágrimas, e do sol a brilhar entre as sombras dos desalojados a dançar à frente do prédio.

De volta à 3ª cena.
- Há sempre algo para arranjar... talvez um dia consiga arranjar aquilo que não tem remédio. - murmura o homem
A sombra da mulher surge por trás dele.
- Não há nada que não possa ser arranjado.

O homem sorri e a sombra desaparece.

Ao som de 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Humano

Quando os mundos caiem... quem fica para recolher os destroços?

(Imagens de arranha-céus a ruirem, monumentos a implodirem e a serem engolidos pela terra, a água a invadir a terra)

Todas as trivialidades, todos os modos de vidas passadas, largados para trás como roupas velhas e usadas.

(Presidiários a ajudarem na retirada de sobreviventes, lado a lado com polícias. Todas as raças e credos, juntos, verdadeiramente juntos pela primeira vez)

Quando um ser humano se apercebe que parte de si ser o criador de um novo mundo...

(Um homem está deitado numa cama, preso, a tentar libertar-se. Grita de desespero, mas ninguém vem ao seu auxílio).

...é quando se apercebe que tem de destruir o velho.

(As correias que o prendem, soltam-se e o homem agarra-se à cabeça gritando de dor. Os seus gritos são cada vez mais fortes até serem a única coisa quer persistem depois do ecrã ficar negro. Os gritos cessam e uns olhos brancos brilham no escuro)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Para Sempre Pt1


Paris 1756

Cena 1

Teatro, casa cheia, opulência, luxo. Um homem bem colocado na sociedade fala com os seus pares, enquanto a sua jovem mulher sente-se aborrecida por sentir que não pertence aquele mundo. Ela apenas quer sentir. Algo que já sentiu em tempos, algo que se tornou apenas uma breve lembrança, distante demais para que a consiga agarrar. Até que o seu olhar se cruza com o dele e uma eternidade passou-se num simples momento. O homem olha para ela de forma sedutora, de uma forma que ela não consegue fugir. Toda a sala parece desaparecer e apenas ficam os dois, sós, longe de tudo. A voz do seu marido faz com que tudo volte.
- Vamos?
A mulher vai, mas olha para trás à procura do homem, não o encontrando.

Cena 2

Conversa com uma amiga:
- Não sei o que pensar, não sei o que fazer, não consigo deixar de pensar naquele homem. Por vezes vejo-o na rua, quando estou com o meu marido, mas volto o olhar e não deixo de me sentir culpada. Como posso ter eu estes pensamentos, com o meu marido ao lado? Meu Deus, nem posso sequer pensar nisso.
- Tu estás apaixonada.
- Não! Não, não quero pensar nisso, não posso pensar nisso.
- Não queres, não podes… mas a realidade é essa.

Cena 3

Os dois encontram-se, finalmente, à beira do rio Sena e desta vez o seu marido não está ao seu lado. Ela tenta fugir, mas há algo mais forte que faz com que ela se mantenha ali. Algo mais forte que faz com ela se deixe manter naquele lugar, contra tudo o que considera certo, naquele lugar que sabe que a vai levar ao momento que tem vivido nos seus sonhos e também nos seus pesadelos.

Cena 4

- Querida, estamos no salão.
A voz do marido intrigou-a e quando chega ao salão, encontra o marido junto com o homem dos seus sonhos. Duas realidades juntas numa só, duas realidades que ela tudo fez para manter separadas. O momento é demasiado forte para ela, desmaiando.

Cena 5

- Vamos jantar à casa dos Beauvoir.
- Não me sinto bem. Vai sem mim.
- Realmente não tens andado bem desde o desmaio, querida, mas eu já disse que íamos. Não quero ser descortês em dizer o contrário, sabes que não fica bem.
Ela já habituada a que os seus sentimentos não entrassem na sua equação e interiormente chora por ir conhecer a mulher do seu amante, outra realidade para a qual ela não está preparada.

Cena 6

Os dois corpos na cama, envoltos em luxúria e paixão, subitamente interrompidos pela presença do marido dela, que os fica a olhar por breves instantes antes dela, saltar da cama e tentar tapar-se. Ela começa imediatamente a chorar, embora esteja confusa, não sabendo se chora pela perda do marido, se chora pela perda da sua posição social. Por aquilo que as pessoas dirão dela. A porta fecha-se com violência e tudo fica negro, ficando apenas o choro da mulher a ecoar.

Cena 7

Uma sucessão de imagens da mulher e o homem surgem no ecrã. Imagens de paixão, de desespero. Um tiro é disparado, gritos. E silêncio. E negro novamente.

- Vais ficar comigo para sempre? – pergunta o homem à mulher no dia do seu casamento, em flashback.
- Para sempre.