domingo, 15 de julho de 2012

Aparências


Eles pareciam o casal perfeito, aos olhos de todos.

Cena 1 – Restaurante
- Como te invejo… gostava de ter aquilo que tu tens. Um marido perfeito, o trabalho perfeito.
A mulher ri timidamente, mas o olhar revela alguma tristeza.

Cena 2 – Casa
- Querida, cheguei. Querida?
- Na cozinha.
- Desculpa o atraso, tive uma…hã…emergência no escritório.
- A emergência impediu-te de ligares o telemóvel ou de me avisares para que eu não estivesse aqui mais de três à tua espera?
- Querida, desculpa, eu perdi a noção do tempo…
A mulher levanta-se e sai da cozinha com as lágrimas a quererem cair.

Cena 1 – Restaurante
- Sinto-me só, sabes? Dizes que tenho uma vida perfeita, mas a minha vida perfeita está a deixar-me cada vez mais triste. É isto? É isto que é suposto ser a minha vida? Infelicidade, tristeza, solidão, incompreensão? Se eu não fosse tão cobarde, eu avançaria, eu fugiria. Iria embora sem olhar para trás. Mas eu não sou corajosa.
A amiga volta da casa de banho
-Estavas a falar com quem?
- Hã? – a mulher é surpreendida – Ninguém, apenas a pensar alto.

Cena 2 – Casa
- Não estejas assim…
- Vou-me embora.
- Como assim, vais-te embora? Como é que te vais sustentar? Quem vai pagar os teus jantares com as tuas amigas? As tuas idas às compras, todo o estilo de vida que tens, como é que o vais manter?
- Eu não pedi nada disto, nada disto tem importância para mim! Lembras-te quando começámos? Os sonhos que tínhamos? O que é que aconteceu? O que é que nos aconteceu? Antes não dava-mos importância a nada destas… coisas!

Cena 3 – Autocarro
A mulher chora com a cabeça encostada ao vidro do autocarro.

Cena 1 – Casa
- Mudámos. – o homem aproxima-se da mulher.
- Não. Se calhar sempre fomos assim. A culpa é minha, acreditei que ia deixar de me sentir assim mas apenas adiei. Fui adiando, ignorando o facto de que me sentia só, de que não me sinto apreciada, de que não me sinto amada. Deixei-me acomodar. De que iria passar
- E vai passar.
- Não, não vai. Não consigo ignorar, não mais.
- O que é que as pessoas vão dizer?
- O que elas quiserem.

A porta bate